SARAU EM HOMENAGEM A MARIO QUINTANA

 


No dia 07/11, realizamos no CEB um sarau muito especial em homenagem a Mário Quintana. Alunos de 3ª a 8ª séries emocionaram a platéia. Encerramos também o I Concurso de Redação do CEB nas Categorias I - 1ª e 2ª séries, Categoria II - 3ª, 4ª e 5ª séries e Categoria III - 6ª, 7ª e 8ª séries com a premiação dos vencedores.

Veja alguns momentos do sarau e conheça as redações vencedoras. 


 

 


 

MARIO QUINTANA

Um poeta das coisas simples, do dia-a-dia. Mario Quintana era assim, alguém que acreditava na poesia da vida. Se estivesse vivo, faria 100 anos.

Gaúcho de Alegrete, Quintana trilhou carreira no jornalismo: trabalhou na Revista do Globo e nos diários O Estado do Rio Grande e Correio do Povo. Teve papel importante como tradutor, sendo responsável pelas primeiras traduções no país de escritores como Voltaire, Marcel Proust e Virginia Wolf. Aos poucos construiu sua obra como poeta. A Rua dos Cataventos, o primeiro livro, saiu em 1940. Muitos outros vieram depois, a exemplo de O Aprendiz de Feiticeiro, Sapato Florido, O Batalhão das Letras.

A importância da obra de Quintana está no fato de ter recriado um lirismo à altura de qualquer leitor, sem fazer concessões a qualquer sentimentalismo, nem se submeter a sofisticadas teorias literárias.

 

BIOGRAFIA

Mario de Miranda Quintana (1906 – 1994) nasceu prematuramente na noite de 30 de julho de 1906, na cidade de Alegrete, situada na fronteira oeste do Rio Grande do Sul. Seus pais, o farmacêutico Celso de Oliveira Quintana e Virgínia de Miranda Quintana, ensinaram ao poeta aquilo que seria uma de suas maiores formas de expressão - a escrita. Coincidentemente, isso ocorreu pelas páginas do jornal Correio do Povo, onde, no futuro, trabalharia por muitos anos de sua vida.

Em 1915 ainda estuda em Alegrete e conclui o curso primário, na escola do português Antônio Cabral Beirão. Aos 13 anos, em 1919, vai estudar em regime de internato no Colégio Militar de Porto Alegre. É quando começa a traçar suas primeiras linhas.

Aos 17 anos publica um soneto em jornal de Alegrete, com o pseudônimo JB.

Em 1925 retorna a Alegrete e passa a trabalhar na farmácia de propriedade de seu pai. Nos dois anos seguintes a tristeza marca a vida do jovem Mario: a perda dos pais. Primeiro sua mãe, em 1926, e no ano seguinte, seu pai. Em 1928 ingressa no jornal O Estado do Rio Grande.

Após ter participado da Revolução de 1930, mudou-se para o Rio de Janeiro, retornando em 1936 para a Livraria do Globo, em Porto Alegre, onde trabalhou sob a direção de Erico Verissimo.

Em sua obra há um constante travo de pessimismo e muito de ternura por um mundo que lhe parece muito adverso.

Entre suas principais obras, merecem destaque: A Rua dos Cataventos (1940), Canções (1945), Sapato Florido (1947), poemas em prosa; Espelho Mágico (1948), O Aprendiz de Feiticeiro (1950).

Em 1962 reuniram-se suas obras em um único volume, sob o título Poesias. Outras obras: Pé de Pilão (1968), Apontamentos de História Sobrenatural (1976), Nova Antologia Poética (1982), O Batalhão das Letras (1984).


ALGUNS POEMAS

Das utopias
O Mapa
Os poemas
Dos milagres
Do amoroso esquecimento

Da observação

Eu escrevi um poema triste
O auto-retrato
Ah! Os relógios
Confessional
Da discrição
O pior

 


 

Das utopias    

Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!

(Espelho Mágico)

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O Mapa    

Olho o mapa da cidade
Como quem examinasse
A anatomia de um corpo...

(É nem que fosse o meu corpo!)

Sinto uma dor infinita
Das ruas de Porto Alegre
Onde jamais passarei...

Há tanta esquina esquisita,
Tanta nuança de paredes,
Há tanta moça bonita
Nas ruas que não andei
(E há uma rua encantada
Que nem em sonhos sonhei...)

Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso

Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar,
Suave mistério amoroso,
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar!)

E talvez de meu repouso...

(Apontamentos de História Sobrenatural)

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Os poemas    

Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...

(Esconderijos do Tempo)

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Dos milagres    

O milagre não é dar vida ao corpo extinto,
Ou luz ao cego, ou eloqüência ao mudo...
Nem mudar água pura em vinho tinto...
Milagre é acreditarem nisso tudo!

(Espelho Mágico)

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Do amoroso esquecimento     

Eu, agora - que desfecho!
Já nem penso mais em ti...
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?

(Espelho Mágico)

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Da observação     

Não te irrites, por mais que te fizerem...
Estuda, a frio, o coração alheio.
Farás, assim, do mal que eles te querem,
Teu mais amável e sutil recreio...

(Espelho Mágico)

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Eu escrevi um poema triste     

Eu escrevi um poema triste
E belo, apenas da sua tristeza.
Não vem de ti essa tristeza
Mas das mudanças do Tempo,
Que ora nos traz esperanças
Ora nos dá incerteza...
Nem importa, ao velho Tempo,
Que sejas fiel ou infiel...
Eu fico, junto à correnteza,
Olhando as horas tão breves...
E das cartas que me escreves
Faço barcos de papel!

(A Cor do Invisível)

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O auto-retrato    

No retrato que me faço
- traço a traço -
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore...

às vezes me pinto coisas
de que nem há mais lembrança...
ou coisas que não existem
mas que um dia existirão...

e, desta lida, em que busco
- pouco a pouco -
minha eterna semelhança,

no final, que restará?
Um desenho de criança...
Corrigido por um louco!

(Apontamentos de História Sobrenatural)

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Ah! Os relógios    

Amigos, não consultem os relógios

quando um dia eu me for de vossas vidas
em seus fúteis problemas tão perdidas
que até parecem mais uns necrológios...

Porque o tempo é uma invenção da morte:
não o conhece a vida - a verdadeira -
em que basta um momento de poesia
para nos dar a eternidade inteira.

Inteira, sim, porque essa vida eterna
somente por si mesma é dividida:
não cabe, a cada qual, uma porção.

E os Anjos entreolham-se espantados
quando alguém - ao voltar a si da vida -
acaso lhes indaga que horas são...

(A Cor do Invisível)

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Confessional     

Eu fui um menino por trás de uma vidraça. - um menino de aquário.
Vi o mundo passar como numa tela cinematográfica, mas que repetia sempre as mesmas cenas, as mesmas personagens. Tudo tão chato que o desenrolar da rua acaba me parecendo apenas em preto e branco, como nos filmes daquele tempo. (...)

                                         

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Da discrição     

Não te abras com teu amigo
Que ele um outro amigo tem.
E o amigo do teu amigo
Possui amigos também...

(Espelho Mágico)

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O pior     

O pior dos problemas da gente é que ninguém tem nada com isso.

(Caderno H)

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                                               Fonte: http://www.estado.rs.gov.br/marioquintana


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